No prédio do Ministério Público Estadual de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, 13 meninas com idade entre 11 e 15 anos esperam sentadas, ao lado dos pais, uma audiência com o promotor de justiça. Com semblante assustado e cabisbaixas, algumas roem as unhas. Outras, com fones no ouvido, ouvem música como se estivessem no sofá de casa. Todas são suspeitas de integrar o “Bonde do Capeta”, um grupo de alunas da 7ª série da Escola Estadual Domingos João Batista Spinelli, na periferia da cidade, que se juntou para ameaçar e estapear colegas mais bonitas e com notas melhores.
A agressão começou a tomar forma em março deste ano, quando os alunos marcaram um dia para ir à escola com suas melhores roupas. As “patricinhas” assistiram às aulas empetecadas e orgulhosas. No mesmo dia, outra turma de meninas combinou de aparecer de pijama. Impedidas de entrar no colégio, se revoltaram. E passaram a ameaçar as colegas bem-vestidas com mensagens agressivas no site de relacionamento Orkut. O enredo virou violência em junho. No intervalo entre as aulas, as encapetadas reuniram o “bonde” para bater em G. (foto), de 12 anos, cabelos loiros, média escolar 9.
Mais que um caso pontual de violência escolar, a agressão em Ribeirão Preto aponta para um fenômeno mais amplo: garotas briguentas que tomam a iniciativa de formar ou liderar gangues. “É como se elas tivessem ficado mais corajosas, e essa valentia fosse reconhecida como um valor”, diz a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (um organismo internacional que municia os governos com estudos) e responsável por uma pesquisa de dois anos sobre gangues femininas no Distrito Federal.