Certo de que o Evangelho de Jesus não foi nesses quinhentos anos de Brasil um item isolado – exclusivo da religião institucional – escolhi colocar na lista apenas canções populares que se conectam com princípios e símbolos cristãos.
Publicado por Marcos Almeida
A certeza que me conduz nesta fascinante pesquisa dentro do repertório popular, é de que a espiritualidade cristã afetou (sim) o modo de ver o mundo de muitos compositores daqui. É no cancioneiro das ruas que busco a confissão explícita e a arte analógica. Aquela que ‘explica’, essa que aponta.
A liturgia dos palcos e dos bares me interessa. Sabemos que a música que tem poesia, discurso e letra está se confessando; porque toda canção é confissão. Palavra é denúncia.
Duas constatações bem vindas:
1. Chamar a música ‘religiosa’ de confessional é de certa forma estúpido – é redundância. Pois toda canção é confissão.
2. Quem explica dá o molde. A fé, portanto, é explicação de vida, é base para cosmovisões, assim como a filosofia ou a “educação laica”. E tudo que explica a vida também fundamenta discursos a respeito da vida. Sendo assim, a fé pode ser vista comoformadora de pressupostos e intenções. Essa fôrma ideológica do compositor aparece estruturando seu discurso ou apenas surge como um tipo de moldura para um quadro abstrato.
Certo de que o Evangelho de Jesus não foi nesses quinhentos anos de Brasil um item isolado – exclusivo da religião institucional – escolhi colocar na lista apenas canções populares que se conectam com princípios e símbolos cristãos. Dez canções (contemporâneas – não fui parar lá nos baús imperiais) que apontam, como uma analogia redentiva, para a Boa Nova e a Esperança.
A força espiritual de algumas letras aparentemente não “religiosas” constrói um acesso ao conteúdo do evangelho de forma linda. Não incluí aqui as canções de molduras afro ou indígena – embora elas mesmas também se relacionem com o esperances de alguma forma (mas isso é outro assunto). Por enquanto, curta aí as dez mais belas e santas canções do nosso hinário popular.
1. Todos estão surdos ( Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
2. Juízo final (Nelson Cavaquinho)
3. Minha festa (Nelson Cavaquinho)
4. Dê um rolê (Moraes Moreira)
5. Deus é o amor (Jorge Ben)
6. Brother (Jorge Ben)
7. A canção que chegou (Cartola)
8. Feito pra acabar ( Marcelo Jeneci )
9. Wave (Tom Jobim)
10. De onde vem a calma (Marcelo Camelo)
Vale uma busca por Elis Regina cantando Já refulge a glória eterna (Glória, glória, aleluia). “Preciso me encontrar”, do Candeia, gravada pelo Cartola e “Obrigado Jesus” do Neguinho.
Isso quer dizer que estamos cristianizando a música popular brasileira? De forma alguma. Antes de existir qualquer movimento organizado da música evangélica, o Grande Tema já estava ardendo dentro dos compositores da rua. Porque foi Ele mesmo quem colocou em nós esse desejo pelo Eterno.
Viva!
Abraço demorado